Pages

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Lembranças memoriáveis

O barulho do vento entre as folhas contrastava com o silêncio frio da noite e do calor abafado do meu quarto. Senti um enorme desejo de abrir as janelas e fugir dali, sair daquelas paredes que tanto já me ameaçavam sufocar.Suspirei fundo, começando a jogar todas as coisas da mesa em uma pequena caixa de papelão que esperava ali fazia alguns dias. Juntei as últimas peças, parando ao ver em minha mão a pequena boneca que ficava sempre ao lado do meu monitor, sentando na poltrona, encarando aquele pequeno artefato com um leve sorriso.

Comecei a pensar, afinal, como seria a vida de uma boneca. Ri com o pensamento absurdo, mas ao ver que aquela pequena havia resistido intacta por tantos anos realmente me fez lembrar para quantos lugares ela fora comigo e por que será que depois de tantos anos ela sempre ficava por perto.
Passei os dedos pelo vestido xadrez dela, vendo a cena da primeira vez que havia visto ela, embrulhada em um papel simples nas mãos de um garoto moreno, um tanto envergonhado com a situação.

Mordi os lábios, voltando a colocar a boneca na mesa ao lado do monitor, procurando a agenda em meio as bagunças da caixa. Puxei a agenda, folhando-a até achar uma foto amassada em meio as páginas, colocando-a ao lado da boneca com um suspiro, anotando o número que ficava na página aberta.
Sai para o corredor silenciosamente, pegando o telefone, voltando a sentar na poltrona. Encarei o telefone, o número e o relógio repetidas vezes antes de respirar fundo e discar.

O toque do telefone começava a me deixar nervosa e comecei a pedir que ele não atendesse.

- Alô?!

Parei de respirar por alguns instantes, respirando fundo, falando com a maior calma que pude encontrar.

- Hey, sou eu... Achei que pudesse me ajudar... Como seria a vida de uma boneca de 8 anos?

Pude sentir ele sorrindo do outro lado.

- Claro... Passo aí daqui a pouco.

Desliguei o telefone, abraçando-o com um sorriso fraco, pulando da poltrona para pegar a jaqueta da cadeira e sair dali o mais rápido possível.



_________________________

Hãn, devo os créditos desse conto pro Doug, foi ideia dele e, sim, dedico esse texto a ele com o maior orgulho!
Brigada Doug, inclusive pela boneca que até hoje fica ao lado do meu monitor!



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Acordes Esquecidos

As vozes fluíam agitadas entre a música que tocava baixo ao fundo, deixando um clima agitado, nervoso, que me afetava mais do que realmente deveria. Respirei fundo, encarando o copo de água a minha frente, antes de sair quase correndo em direção a uma discreta porta nos fundos do local.
Fechei o casaco ao sair no ar frio, me escorando ao lado do moreno que encarava a rua distraído.

- Como você tá?

Ele sorriu levemente ao me ver, voltando a rodar a palheta entre os dedos.

- Nervoso eu acho...
- E os outros?
- Não sei... Tão por aí, tentando não parecerem nervosos.

Senti o seu olhar pousar em mim, e me desencostei da parede, suspirando. Pela milésima vez naquela noite coloquei a mão sobre o ombro dele, apertando de leve.

- Vocês vão se dar bem.

E pela milésima vez naquela noite eu o vi sorrir, concordando com a cabeça. Coloquei as mãos nos bolsos da jaqueta, respirando fundo, começando a ficar agitada com a primeira apresentação deles.
Baixei a cabeça, ouvindo a porta se abrir logo em seguida, fazendo nós dois nos voltarmos para ela.

- Ei, tá quase na hora.

Encaramos o baixista em silêncio, caminhando em direção onde ele havia desaparecido segundos antes. Puxei a jaqueta do moreno antes que ele pudesse entrar, dando um abraço nele.

- Boa sorte!

Senti os braços dele me envolverem com certa surpresa, mas não deixando isso transparecer demais. Me afastei dele sorrindo, entrando antes mesmo dele poder agradecer.
Andei pela massa que começava a se juntar perto do palco, onde um garoto anunciava a próxima banda, ficando parada um pouco a frente do palco. Cruzei as mãos por cima do rosto, vendo os garotos entrando no palco, reprimindo alguns gritos ao meu redor, tomada pelo nervosismo. Encarei o moreno, acenando com a cabeça, assim que começaram a tocar a primeira música.

Fiquei encarando o palco por mais alguns minutos depois do término do show, antes de sair correndo para o grupo de pessoas que envolvia a banda. Sorri para eles, parabenizando cada um pelo sucesso e que realmente haviam feito um apresentação perfeita. Parei na frente do moreno, que olhou pro lados, antes de me puxar para um canto mais afastado, me entregando um pequeno bilhete. Li ele em silêncio, sentindo um sorris escapar dos meus lábios, o encarando logo em seguida.

- Nossa! Nem lembrava mais dessa música.

Ele deu de ombros.

- Lembrei que tava com ela no bolso... e que tu sempre gostou tanto dela.
- É...costumava cantar pra mim. Obrigada, Doug!

Nos encaramos sorrindo por alguns instantes, antes de sermos chamados de volta a realidade pelos outros que comemoravam a primeira apresentação. Suspirei, puxando o moreno pela mão, de volta para o meio, segurando firmemente o bilhete entre os dedos.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quem precisa de homens?



A panela de brigadeiro fumegava, levantando o aroma agrádavel do chocolate, fazendo as três garotas atiradas no sofá suspirarem com satisfação. As colheres cheias do doce sagrado eram encaradas com devoção e prazer, em silêncio, como se um pacto fosse selado.
As três se encararam por algum tempo, antes de formar um pequeno circulo no sofá, encarando-se com curiosidade, juntando as colheres na panela.

- Certo... Que comece a noite, Pey?

As duas encararam a loira que sorriu, apoiando as mãos nas pernas, inclinando-se para frente.

- Terminei com ele hoje... de vez!
- Mas, como isso??
- Ah, já tava pra dizer chega. Cansei dos jogos. Ainda respondo, mas não vou me envolver nesse inferno de novo!

A garota era encarada por duas morenas, que sorriam, lhe entregando um copo cheio de sua bebida favorita.

- Realmente... acho que fez bem!
- Verdade, ele passou dos limites.

Elas riram alto, juntando os copos ao alto, bebendo em goles rápidos quase metade do copo, escorando-se para trás.

- Então, Quinn?

A morena apoiou a cabeça na mão, lambendo a colher, rodando-a entre os dedos em seguida, com um suspiro.

- Tá na mesma. Pede, fica, cada um vai pro seu canto.

A loira a encarou preocupada.

- Tu tá apaixonada por ele?
- Não, não. Só que essa rotina já tá cansando, por mais que eu goste.

Ela se esticou para trás, olhando as outras duas em seguida.

- Se tu tá cansando, termina.
- Fala sério, Quinn. Não sei como tu chegou até aqui viva...

A morena encarou a amiga com um olhar indignado, jogando uma almofada.

- Como assim? Querendo dizer que ele ia acabar comigo é? Ahh, vá!

As três riram, voltando a comer o brigadeiro, intercalando com goles de seus copos.

- So... Brooke?

Os olhos claros e escuros encaravam a outra morena sentada no meio do sofá, com brilho de maldade.

- Ah...bem...ahn.. Nada.
- FALA LOGO!

O coro das vozes encheu a sala por alguns segundos, antes do silêncio se instalar novamente.

- Tá... não foi. Não rolou química, não consegui!
- Pode ter sido melhor... Poderia ter ficado pior.
- Espera por alguém que te mereça, isso sim.

As três garotas observaram umas as outras notando o vínculo formado ali há anos atrás. Coisas haviam mudado, pessoas ido embora, novas vieram, caminhos diferentes e mesmo assim, iguais. Elas ainda permaneciam juntas, unidas por algo muito mais do que uma simples amizade. Uma vida.

A loira ergueu o copo.

- À nós!

As outras duas ergueram seus copos, repetindo, virando o resto da bebida, lançando-se por cima da panela de brigadeiro, rindo, deixando que os segredos se dissipassem junto com o resto do doce sagrado.


________________
Dedicado a minha B. Davis e a minha P. Sawyer (l'

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Notas Musicais

O silêncio no quarto era intenso e a concentração dos dois corpos no mesmo sofá intensificavam a tensão para uma resposta definitiva. Folhei a pequena apostila com cuidado lendo atentamente, sentindo seus olhos me focando com certa euforia. Sorri levemente, olhando para ele, lhe entregando a apostila.

- Acho que tu já sabe... Adorei!
- Obrigado mesmo.

Sentei em cima de uma das pernas, enquanto o observava guardar suas preciosas letras. Achei engraçada a situação que, depois de tanto anos, ainda era eu sentada naquele mesmo sofá, lendo, dando opiniões, confissões, ouvindo. Ainda gosto de vê-lo sorrir quando falo ou mesmo do leve brilho no olhar com um simples elogio.

- Hey, toca aquela música pra mim?

Encarei o moreno com um olhar pidão ao qual ele respondeu rindo, pegando o violão. Apoiei o braço no sofá, encostando a cabeça por cima, deixando que os acordes e a voz dele chegassem até mim, me levando aos pensamentos mais longínquos. Observei a concentração e o sorriso no seu rosto, me fazendo sorrir também. Ele parou de tocar e me encarou por alguns instantes.

- Então, o que achou?

Apontei para o lugar ao meu lado, esperando que ele se sentasse.

- O de sempre. Simplesmente bom... sabe como gosto dela!

O vi corar, sorrindo.

- Obrigado mesmo, não sabe como é bom ouvir isso.
- Eu é que agradeço por mostrar tudo isso pra mim, significa muito!

Nos encaramos em silêncio, com olhares perdidos. Vi ele puxando a minha mão para a sua.

- Mesmo assim, obrigado.
- Conte comigo.

Sorri passando a ponta dos dedos pelo queixo dele, levantando do sofá.

- É bom poder contar com alguém.

Peguei minha bolsa no chão colocando a mão no braço dele.

- Eu sei! Por isso to aqui.

Lhe dei um beijo na bochecha, saindo logo em seguida, mas acabei parando na porta, acenando levemente, vendo-o sorrir.

- Boa sorte.



(Baseado em um dialogo real)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pro Inferno

O quebrar das ondas se misturava com um silêncio continuo enquanto eu observava a praia solitária. A noite era quente, o ar parado e mesmo assim eu era a única insana a estar parada na areia de salto, com as mãos nos bolsos do short. Consegui sorrir pensando em como as coisas haviam mudado depois de um ano; para melhor. A praia muda as pessoas. As deixa mais calmas, amigáveis e, por que não, abertas.

Deixei a beira para trás, me juntando as duas pessoas que me esperavam mais a frente.

- Let's go!

Abracei as duas garotas pelos ombros, puxando-as em direção a rua principal do pequeno município enquanto elas riam, planejado sobre o seguimento daquela noite.
Diversos sons vinham ao nosso encontro, dando início a noite de Carnaval, mas ainda assim não era isso que mais nos impressionou. O choque real eram as roupas, ou melhor, a falta delas. Observei as garotas por alguns instantes, me sentindo vestida demais, antes de começarmos a rir, sendo as diferentes da noite.

As ruas lotadas dificultavam a nossa passagem, garotos fora de suas sanidades mentais dos quais tínhamos que desviar a todo custo. Puxei as garotas para um espaço vazio.

- Loucura!
- Demais.

Rimos, entrando no ritmo da música que chegava a todos os cantos, observando os nossos arredores com cuidado. Passei a mão pelo cabelo, vendo um dos garotos chegar perto da loira do grupo com um olhar certamente maldoso. Vi ele sendo empurrado com certo horror, ao que formamos um coro.

- Vá pro inferno!

Demos as costas para o garoto atordoado, pegando algumas das nossas bebidas favoritas, voltando a andar em direção a praia, onde encontramos nossos "amigos mais próximos". Ficamos em silêncio por alguns instantes, antes que eu me levantasse virasse para as cinco pessoas à minha frente.

- O Carnaval é um desastre para muitos, mas para nós... É o máximo! Por que é NOSSO!

Três garrafas se batendo misturava-se com o som das risadas, a música e as ondas. Nos olhamos com um olhar satisfeito por mais uma temporada de felicidade completa.
Puxei as duas pelas mãos e ficamos dançando na areia até podermos dizer que tudo, até aqui, havia valido a pena e que nada mais poderia ser melhor... A não ser outra temporada.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Teu Jeito ( Douglas P.)

Te olhar nos olhos e pensar
Como seria bom te ter aqui comigo
Chegou a hora de poder falar
Que eu adoro o seu jeito

O jeito que me olha
O jeito que você tem de falar...

Pra mim, que também me quer ao lado seu!
Então me dê a mão
E vamos juntos por ai

Não importa o lugar se tiver você comigo

Chegou a hora de poder falar
Que eu adoro o seu jeito

O jeito que me olha
O jeito que você tem de falar...

Que eu sou a pessoa com que você sonhou.

Chegou a hora de poder falar
Que eu adoro tudo em você

Que tu é que me faz viver.


_________________
Mudando um pouco de contos pra letras de música. Digamos que essa veio inusitada dum amigo meu, eu gostei e roubei (H) Tá, brincadeira, mas tá valendo porque é boa mesmo.

Participação especial
: Douglas P.

Asfixia Auto-medicada

O tempo cada vez mais surpreende, mas pior que isso são as marcas que ele deixa, feridas que demoram a curar, emoções incontroláveis e um futuro incerto. E eu novamente me encontrava nesta situação, encarando um copo de chá gelado. Não havia maneira senão encarar! Só não achei que seria tão doloroso, complicado. Baixei a cabeça relembrando a confissão, meia hora mais cedo.

- Kate, eu não queria... foi algo de duas vezes, eu juro. Por favor, tente me ouvir, entender. Você viajou e me deixou aqui..

Olhava meu namorado levemente atordoada com uma camisa manchada na mão e um sutiã que não pertencia a minha coleção.

- Eu ia me encontrar com ela hoje para terminar tudo. Acredite.

- Onde?

Esperei que ele relutasse, mas me entregou um pequeno cartão com o nome de um restaurante.

Ainda custo a acreditar que cheguei até aqui sem perder a paciência, acho que ainda não absorvi o choque por completo. Olhei para o relógio, que conferia de cinco em cinco minutos, voltando os olhos para a porta esperando a moça chegar. Quando ela finalmente chegou, notei sua expressão de horror ao se ver a minha frente, é bem intimidador mesmo. Analisei-a por alguns breves instantes, reparando nos cabelos loiros, no corpo definido, enquanto ela tentava sorrir para mim. Suspirei, sentando. "Sempre loiras..."

Lhe passei um pequeno pacote por cima da mesma, antes mesmo que ela começasse a se explicar, afinal teríamos muito tempo para colocar a conversa em dia. Empurrei uma xícara de chá gelado para ela, que sorriu desconfiada, me olhando.

- Não vou tentar te fazer mal... ainda!

Sorri de forma agradável, colocando um pequeno frasco branco entre nós, esperando que ela bebesse o chá.

Contracorrente



(1860)

Existem momentos em que temos que parar para pensar sobre o sentido das coisas que fazemos e acho que o momento era este. Como encarar aquele homem à minha frente sem vacilar e pensar em coisas mais... irritantes? Estranhamente o vestido claro havia parecido apropriado para um dia de inverno, mas devo confessar que um preto cairia muito bem agora.

- Srta. Foster! Que imenso prazer em revê-la.

Lhe entreguei a minha mão relutantemente, bufando enquanto ele a beijava com admiração. Puxei-a de volta sem pensar, acenando com a cabeça.

- Sir. Hopkins!

Cruzei as mãos por cima do corpete bordado, apertado, vendo a cena na vidraça da casa de chá. O vestido longo mal encobria a saia de armação, mas havia ficado lindo em contraste com a neve e o casaco de "pele" branco. Voltei meus olhos para o moço, que me encarava furtivamente.

- Srta. Foster, me perdoe...

O fiz calar com um leve gesto da mão.

- Não, Sir. Hopkins! Devo dizer que desaprovo o modo de tratar a doença de minha prima, e ainda achar que pudesse me enganar! Acreditei no Senhor e seu amor... por mim.

Lágrimas brotavam dos meus olhos, com a ajuda do vento gelado, baixando o rosto, escondendo-o com o chapéu. Solucei baixo ao sentir sua mão procurando a minha.

- Ah minha cara Foster. Nunca lhe menti. Eu a amo. Mas não posso deixar sua prima por razões óbvias, não acha?

Vi o brilho nos olhos dele e assenti, derrotada. Havia virando a amante, mas até quando conseguiria seguir a farsa? Sorri polidamente lhe estendendo a mão, que aceitou prontamente.

- Foi um prazer, Sir. Hopkins. Tenha um bom dia.

Me virei de cabeça baixa, mantendo um sorriso maldoso, andando lentamente pela neve.

- Corta! Muito bem, Liam, Issy!

Tirei o chapéu, sorrindo para o diretor e Liam, continuando a andar.

Afinal, percebi, a vida era um filme.Os dramas são reais, você tem chances de tentar novamente, mas não como nos estúdios. Você precisa de consciência para começar outra vez e reparar erros e não achar que é um ensaio onde você volta a marca e muda as falas. O roteiro está ali...

Enfrente-o!