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terça-feira, 2 de março de 2010

Paixão é medo.

A chuva batia contra o vidro, embaçando-o, deixando o ambiente ruidoso. Passei os dedos pela janela, analisando a paisagem montanhesca pela qual o trem passava, sorrindo levemente ao notar o quão longe eu realmente estava. Toda partida era dolorosa, mas aquela havia me trazido alívio. Me afastar de tudo, voltar o foco para o que realmente importava.

Encolhi as pernas no banco, apertando o livro que estava lendo contra o peito, observando os outros três passageiros que dividiam a cabine comigo. Um homem sério, escondido atrás do jornal daquela manhã. Uma mulher com uma criança de colo. E um outro homem que dormia encostado na janela. Notei a diversidade das pessoas e o quanto tudo aquilo havia feito falta durante os meses que passará na cidade dos meus pais.

Puxei a câmera da minha bolsa tirando algumas fotos das pessoas, voltando a olhar a paisagem logo em seguida. Lembrei do loiro que não me saia da cabeça há semanas e até agora ainda sentia os efeitos dos seus olhos verdes sobre mim. Suspirei. Ainda não sei como fui cair na armadilha de sentir coisas assim sabendo que nada disso iria durar. Qual era a finalidade? Lembranças... Eu poderia ter tido mais, ou não? Sei que sentia medo.

A intensidade da chuva aumentava quanto mais percorríamos as florestas, me fazendo sorrir. Eu me sentia em casa ali e pela primeira vez não sentia medo, nem intrigada com o que ele pensaria. Estava finalmente em paz.
Estiquei as pernas, abrindo-o livro, deixando tudo para trás como a última página de um livro antigo.

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