Pages

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Espera

O guardanapo à minha frente não se parecia mais nada com aquele que havia encontrado quando sentei na mesa. Ele havia perdido a forma e foi brutalmente riscado por uma caneta fina como se fosse uma ameaça. Era isso que a ansiedade misturada com o desapontamento causavam. Larguei o guardanapo ao lado do meu prato, sorrindo cordialmente para o garçom, que perguntava se precisava de mais alguma coisa, negando com a cabeça e agradecendo.

Tomei um breve gole do copo de martini, com os olhos fixos a porta com as últimas esperanças que restavam em mim. Desviei-os por alguns segundos para o meu reflexo no vidro do restaurante. Encarava a mulher com os cabelos escuros e compridos caindo soltos pelos ombros, contrastando com a sua pele branca e o vestido vermelho. Gostei do que vi, até mesmo da expressão indiferente nos seus olhos.

Sorri ao ver que ele havia chegado e se dirigia a mim com uma expressão de felicidade. Tão falso, tão sem sentido. Ele veio em minha direção, fazendo o garçom sorrir, como se dissesse 'Graças, que ele veio', tentando me dar um beijo, ao que eu virei o rosto com um singelo sorriso.
Ele sentou com uma expressão confusa, bebendo alguns goles do copo d'água que já o aguardava na mesa, enquanto eu dava o gole final no martini.

Ouvi algumas palavras que ele pronunciava, que pareciam desculpas pelo seu atraso. Eu fingia ouvir e acreditar ele fingia que estava tudo certo. Quando a mão dele se moveu para o cardápio, abri a minha bolsa tirando o dinheiro e deixando-o em cima da mesa. Ele me fitava desconfiado. Levantei com um sorriso que transparecia uma segurança, sem olhar para ele novamente, deixando a mesa. Ignorei os seus chamados. Senti os seus olhos nas minhas costas e os olhares surpresos de todas as pessoas.

Espero agora estar salva. Acreditar que isso acabou. Aceito bem o fato de ser enganada.
Mas aceito melhor ainda deixar a pessoa que me enganou sem a suas respostas.

Me virei pela última vez na direção dele, vendo ele em pé ao lado da cadeira com os braços abertos, como se esperasse que eu voltasse correndo. Ri baixo, desviando os olhos dele, saindo pela porta de vidro que separava a mentira da verdade.


0 comentários:

Postar um comentário