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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Uma noite e mais uma vez

De alguns tempo pra cá pessoas passaram a ser invasivas, era tudo que podia pensar ao ouvir o conhecido toque desperta-la as duas da manhã. Rejeitou a ligação sentindo o aperto no peito aumentando ao fazê-lo. Era quase que rejeitar uma parte de si, mas encarar aquela situação não parecia tão fácil agora.
A morena jogou o lençol para o lado, sentando na cama, afundando os pés no carpete felpudo e com movimentos leves deixou o celular em cima da cômoda, virando-se lentamente para o loiro que dormia ao seu lado, respirando calmamente.

Aquilo não deveria ter acontecido e ela sabia disso, mas as coisas se encaminharam de uma forma rápida e, ao final da noite, foram fatais.
Novamente o celular começou a tocar ao seu lado e as batidas aceleradas do seu coração eram doloridas. Com mãos tremulas Lene alcançou o celular, apertando os dedos contra o alto falante, abafando o som.

O ponteiro no relógio da cozinha parecia não ter se movido desde que havia sentado ali, com os olhos fixos no celular. Ela baixou a cabeça nas mãos esperando que tudo isso não passasse de um pesadelo, esperando que ele ligasse de novo e ela pudesse atender e dizer que tudo estava bem.
O som da campainha fez com que a morena pulasse da cadeira, encarando a porta com os olhos arregalados.

Com passos leves Lene aproximou-se da porta, abrindo-a com cuidado, não retirando a corrente de segurança.
Os olhos escuros, contornados por profundas olheiras, a encaravam sem expressão, esperando que ela voltasse a se manifestar. A resistência da garota de destrancar a porta não passou despercebida e ela sabia que a paciência dele se esgotara quando sentiu a porta sendo esmurrada com força.

- O que está acontecendo, Lene?!

A raiva do moreno, a cada batida, se tornava mais angustiante, deixando-a perplexa. Não o reconhecia daquela forma. Sentindo um arrepio a cada olhar Lene baixou a corrente de segurança, abrindo a porta, deixando longe das mãos furiosas do namorado. Nos instantes seguintes um silêncio constrangedor e pesado começava a tomar conta do lugar, deixando a morena embaraçada pelos olhares analisadores e reprovadores, fazendo com que cruzasse os braços. Naquele momento o short e a blusa pareciam mais do que inadequados, mas não pela presença ou pelo motivo e sim pelo terror gélido que tomava conta dela.

- O que está acontecendo? Me responde.

As mãos pesadas de Harry apertavam seus ombros brutalmente, sacudindo-a em total desespero. Lene sentia seu rosto sendo banhado por lágrimas ao ser jogada contra o sofá, colocando as mãos no rosto encarando o garoto se mover de um lado para o outro como um animal feroz.

- Eu não sei do que você está falando.
- Não sabe?

O moreno apontou para a porta entreaberta do quarto onde se distinguia perfeitamente o contorno do loiro que ainda dormia tranquilamente. Lene encarou os olhos dele que agora demonstravam mágoa.

- Por que, Lene? Por que?

Ela abriu a boca mas lhe faltaram palavras para explicar. Como dizer a ele que tudo fora um engano e que na verdade fora só a formalização de algo que já havia acabado há muito tempo atrás? Tudo parecia mais fácil horas atrás, rindo, dizer que fosse pro inferno, do que agora, encarando aqueles olhos magoados e, pior, com uma força desconhecida, aterrorizante.



(continua...)


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